Há um lugar-comum a respeito de urbanismo: a modernidade mata os centros históricos. E a arma e o motivo do crime parecem evidentes: a descaracterização arquitetônica e a homogeneização global no uso comercial. Bem, nem todos os lugares sucumbem a essa ameaça progressiva.
Repare na nova loja da grife Chanel na Hooftstraat, endereço de butiques de luxo: não parece prédio antigo? Engano do primeiro olhar: é recém construído. Numa época em que o patrimônio urbano é engolido pela voracidade imobiliária, o prédio de 3 andares (620m2 de varejo, 220m2 de habitação) surpreende.
Onde se ergue a Chanel agora, havia dois prédios, típicos da zona residencial de antes. E foram ambos demolidos. Qual o milagre, então? O mérito da proposta é do escritório holandês MVRDV, que fez a promessa de trazer de volta o que ia ser demolido, e ainda acrescentar algo inesperado. Transparência na fachada.
Fora a ousadia visual, o projeto fez outra façanha: uma réplica exata das construções originais da rua. Todo o vidro aplicado – tijolos sólidos, placas, arquitraves – exigiu tecnologia especial, implantação cuidadosa. E surgiu uma loja notável, que respeita os arredores e traz inovação poética.
Resultado: a modernidade se harmoniza com a herança cultural do entorno. Quer dizer, os centros históricos podem ser revalorizados pela engenhosidade e por uma orientação humanista. Para isso o MVRDV contou com a pesquisa da Universidade Técnica de Delft e a parceria do fabricante de vidro.
Como seve, arrojo é a marca de Winy Maas e equipe, com portfólio ao redor do mundo. A partir da Casa de Cristal, que atende às leis de zoneamento e às regras estéticas da cidade, os novos métodos de construir irão beneficiar cidades no futuro. Repare mais uma vez: além de todo reciclável, o prédio parece flutuar acima do chão!
Para conhecer o escritório de arquitetura que imaginou essa belezura, acesse o site MVRDV. Para assistir ao making of da Casa de Cristal, acesse o Youtube ou clique no vídeo abaixo.