opinião

Ministério Público caça CCs fantasmas na Câmara; cuidado com a ’caça às bruxas’

Se o Raul cantava que queriam alugar o Brasil, nesta segunda parece que o Ministério Público de Gravataí bancou de senhorio da Câmara de Vereadores de Gravataí.

Antes das informações sobre a bomba do dia, e a análise, deixem-me apresentar um pouco de contexto, porque faz bem às instituições e a democracia, ou embarcamos todos nessa loucura de que a cada esquina precisamos atravessar a rua para fugir do diabo – ou de deus, conforme as crenças ou pecados.

Vamos lá.

Acho que cada um tem aqueles momentos em que fica feliz consigo mesmo. Sinto-me assim quando penso que não sou mais acessório para propagandear como condenação correta qualquer denúncia do MP, ou para considerar inquestionável uma sentença do Judiciário.

Prestem atenção, acima, no “não sou mais”.

É que já fui assim, como ainda o são, jornalistas muito mais experientes que eu: alguns desinformados (tem preguiça, ou acham desnecessário ler as denúncias do MP ou as sentenças dos magistrados), outros informados do mal, porque sabem que estão espalhando fake news institucionais, mas optam por caçar-cliques.

E, sabemos, no Grande Tribunal das Redes Sociais, quaisquer denúncias contra políticos rendem bastante likes. Felizmente, tenho a mania de colocar esses ‘escândalos’ sob uma perspectiva.

Quando a gente quer comprovar uma teoria, basta aplicar à nossa esquina. Assim, imagine uma página que tivesse o nome de “Dorme Gravataí”. Quantos leriam antes de comentar a manchete que postei neste artigo? E com um "URGENTE" como ilustração? Aí, nas metralhas das milícias digitais, por óbvio restaria aos políticos uma presunção de culpa.

Parabéns a você que acompanha até aqui e comprova que, no Seguinte: tem informação e análise, não crazy news. Pode não concordar, e meter pau nos comentários, mas é mídia profissional.

Seguindo: não sou defensor de corruptos ou de deslumbrados da política, mas são eles e elas os eleitos para o executivo e o legislativo, os ‘representantes do povo’, queira você que me lê ou não, sejam elas e eles um espelho de seus comportamentos ou uma antítese.  

A mim, como jornalista, cabe analisar.

E aí chego ao motivo de fazer até aqui, neste artigo, o que para muitos pode parecer ‘enrrolol’, mas é contexto.

O Seguinte: teve acesso ao ofício 0078301347/2019, de 10 de abril, assinado pela promotora Carolina Barth Loureiro Ingrácio, da Promotoria de Justiça Especializada de Gravataí, que cobra nestes termos do presidente da Câmara de Vereadores de Gravataí, Clebes Mendes:

 

“(…)

Apraz-me cumprimentá-lo e, na oportunidade, considerando o ofício, instaurado para apurar ocorrência de irregularidades no cumprimento da jornada de trabalho dos servidores da Casa Legislativa, encaminho a Vossa Senhoria cópia da vistoria realizada pelo Ministério Público, solicitando que se manifeste quanto às ausências injustificadas dos servidores da casa legislativa, bem como quanto às medidas adotadas para coibir esta prática, tendo em vista que alguns servidores desempenham outras atividades profissionais no horário de expediente. Prazo para resposta 30 dias”.

(…)”

 

Não vou me ater ao português ou à pontuação porque não vem ao caso. Mas a pergunta do MP, pelo menos assim entendo, já parece uma resposta. Alguém já está denunciado. Sim, porque o ofício pede à Presidência da Câmara que diga quais medidas tomou para coibir “esta prática”.

No dicionário, “prática” significa: “o que é real, não é teórico; realidade”.

Então, já existe.

Então, na Câmara de Vereadores de Gravataí, fantasmas existem. E são assessores de vereadores!

Estou errado? Ah, então a promotora Carolina Barth também o está, ou fez-se interpretar mal na construção do texto do ofício.

Dou a informação exclusiva: o presidente da Câmara, no memorando 4/2019, distribuído na tarde desta segunda e ao qual o Seguinte: teve acesso, convoca os 21 vereadores para uma reunião nesta terça, 16h, para tratar de abertura de inquérito pelo Ministério Público sobre a efetividade dos CCs dos gabinetes.

“Urgente”, está escrito na convocação.

Para quem não está familiarizado sobre o funcionamento da Câmara, os assessores dos gabinetes não precisam colocar o dedo na biometria para confirmar com a digital a presença no trabalho, como os funcionários concursados, e sim marcam seus horários com caneta – lápis não pode – em folhas ponto.

Cada vereador tem a responsabilidade de fazer seu controle.

Assim, se um CC trabalhou de manhã, e não no horário da tarde, quando a Câmara está aberta ao público, ou então foi fazer um atendimento em algum bairro, é preciso especificar os horários nesse caderno-ponto. O vereador vai lá e endossa.

O que pode dar ruim para vereadores é se o Ministério Público comprovar que algum abonou o ponto de CCs que não assinaram o livro – e um assessor da promotora, este jornalista garante, fotografou as efetividades dos funcionários de cada gabinete.

O simples não preenchimento careceria de mais um elementos de prova, que podem ser as câmeras que registram entradas, saídas e corredores do legislativo.

Comprovada fraude, é improbidade administrativa, falsidade ideológica e por aí vai. E, quem sabe, a promotora pode fazer até um PowerPoint ligando as faltas a um acordo para um rachide nos salários – tipo a ‘Lei Vampeta’, “você finge que me paga e eu finjo que trabalho” – e se consagrar como Deltan Dallagnol quando pediu a cabeça do Lula.

Na reunião desta terça os vereadores citados pelo MP – que o Seguinte: não conseguiu apurar quais foram (mas abre o espaço para o 'habeas corpus preventivo') – podem explicar o porquê de seus funcionários não estarem no trabalho quando o MP foi lá.

Preparem-se os políticos: se o tailleur hoje é brega, está na moda condenar.

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