Em duas postagens que li no Grande Tribunal das Redes Sociais, antecipo o Guia De Como Você Será Abordado por Sindicalistas e Governo, em suas narrativas, nos Jogos Vorazes que contrapõe SPMG e o prefeito Marco Alba na greve que inicia nesta segunda, em Gravataí, contra a extinção do Ipag Saúde, o plano de saúde que atende 10 mil pessoas entre servidores ativos e inativos, pensionistas e familiares.
(Em um artigo próximo explico a voracidade da política, interessados e interesseiros envolvidos).
Mas, vamos aos posts de um lado e de outro, que, ao fim, farei a tradução que considero a mais adequada, para o Guia De… durante a greve em que sindicalistas esperam parar as 70 escolas e aulas para cerca de 70 mil alunos.
Começo pela postagem viralizada pelo funcionalismo nas redes sociais.
“(…)
"É COM PESAR QUE INFORMO O INÍCIO DA GREVE DOS PROFESSORES MUNICIPAIS DE GRAVATAÍ NA SEGUNDA-FEIRA, DIA 25. DIVULGUEM !!! É OFICIAL !!!
Entendemos que estamos sim num momento delicado, de luta por direitos conquistados pelos servidores de Gravataí, não somente para os professores. O IPAG SAÚDE poderá ser extinto, atingindo 10 mil servidores e usuários, que irão aumentar ainda mais as filas no SUS, provocando uma sobrecarga ainda maior. A hora não é de aceitar que nos tirem um direito, mas de mostrar que não vamos aceitar calados mais isto.
AFINAL:
– Nossos salários não sofrem reajuste da inflação há 5 ANOS. Estão congelados.
– NÃO recebemos hora atividade, ou seja, as atividades que preparamos para seus filhos são construídas EM CASA, ENQUANTO DEVERÍAMOS DESCANSAR. E NÃO SE FAZ PLANEJAMENTO EM MEIA HORINHA.
– PAGAMOS O IPAG COM DESCONTO EM FOLHA, MESMO QUANDO NÃO CONSULTAMOS MÉDICO, PAGAMOS MENSALMENTE.
Muitas informações tem sido divulgadas, com a intenção de colocar a população contra os servidores. Não seja massa de manobra ! Cuide e apoie de quem cuida dos seus filhos, dos seus netos, dos seus enteados. A causa é justa !" Cole no seu mural e ajude a divulgar a situação real dos servidores.
(…)”
Comento.
Errado o uso da palavra ‘direito’. Se fosse um direito, bastava o SPMG esperar a aprovação, recorrer à justiça e estaria tudo resolvido. Na verdade, o prefeito pode extinguir o Ipag Saúde.
Na conclusão, volto ao que considero seja um discurso mais correto. Antes analiso ponto a ponto.
Ponto 1: é verdade que impera em Gravataí o ‘reajuste zero’. O prefeito enviou à Câmara e os vereadores aprovaram 1,69% de reposição pela inflação entre 2017 e 2018, mas foi mais uma manobra do governo porque o sindicato movia ação pedindo reajuste (que calcula em 16%) e o governo teria margem para pelo menos recuperar as perdas inflacionárias, já que gasta menos do que os 51,3% de limite da Lei de Responsabilidade Fiscal – mas aí sem a conta da previdência, conforme o secretário da Fazenda, a ‘Falha de San Andreas’ (em referência ao acidente geológico mais temido no mundo e que poderia desencadear um tsunami de proporções bíblicas em São Francisco, engolindo parte dos Estados Unidos) que justificaria o congelamento dos salários do funcionalismo por mais de uma década.
Ponto 2: é verdade também que não é paga a ‘hora atividade’, que seria um tempo remurado para os professores planejarem aulas. Mas é uma reivindicação histórica, que perpassa governos de diferentes ideologias. Está na pauta de negociações entre SPMG e governo, mas não é o real motivo da greve.
Ponto 3: é verdade que há desconto para o Ipag Saúde mesmo quando não se usa nenhum serviço, da mesma forma que acontece com qualquer plano de saúde, público ou privado.
Ponto 4: Meia verdade e, possivelmente, a metade mais próxima da mentira. Há postagens de defensores do governo que manifestam suas opiniões, muitas vezes distorcidas e com aquela profundidade de zap-zap, ao estilo ‘funcionário é vagabundo’, mas há também servidores que, muitos com a habilidade das palavras, deixam entender que o plano que atende a eles e familiares é pago apenas com os descontos em seus contracheques.
A mídia de verdade tem apresentado as versões e os dados.
Não pode é o SPMG achar que mostrar os números do Ipag Saúde, que revelam sua falência, e apresentar a fala do prefeito, que considera injusto ‘300 mil habitantes pagarem por 5 mil funcionários’, ´jogar a população contra os servidores’. Luz só faz mal a vampiro – e eles não existem, até onde se sabe.
Até porque, pelo menos o Seguinte:, sempre esteve aberto a ouvir o sindicato. Inclusive brinquei com a presidente Vitalina Gonçalves, quando ela criticou a cobertura em assembleia do funcionalismo, que a direção do SPMG preferia se manifestar como o presidente Jair Bolsonaro, pelas redes sociais, em vez de dar entrevistas.
Concluo apontando o que considero o discurso mais honesto: “um professor de nível 1 ganha 1200 por mês, os salários dos trabalhadores em educação são baixos, mesmo que haja estabilidade no emprego e existam alguns gatilhos de reajuste ao longo dos anos conforme se avança nas carreiras. Tirar o Ipag Saúde é acabar com um benefício que torna um pouquinho mais atrativa a carreira dos professores e trabalhadores em educação em Gravataí”.
Vai esse discurso não mobiliza, para além dos servidores que usam o plano, também os pais e alunos, muitos usuários do SUS, na defesa da categoria e na pressão sobre os vereadores e o prefeito para que recuem da extinção do plano de saúde?
:
Agora o post de Luiz Zaffalon, secretário que acompanha Marco Alba há mais de três décadas: no MDB, na Assembleia Legislativa, no governo Yeda Crusius e nas duas gestões do prefeito em Gravataí.
Ao fim comento.
“(…)
Lei de Gérson sendo revogada?
Este debate (por enquanto entre funcionários públicos de Gravataí beneficiados x Governo) é apenas sinal dos novos tempos. Marco Alba resolve "de novo" fazer a ruptura de um velho paradigma, onde algumas classes ficam com quase todo dinheiro público.
Auxílio Moradia para juízes, auxílio paletó para Deputados, tamanho do congresso, aposentadorias especiais à pequenos grupos, carros oficiais…. Ninguém aguenta mais.
O IPAG Saúde é um plano de Saúde Privado (melhor que privado), sustentado meio a meio entre funcionários públicos e Governo (população) que o Governo em respeito à 95% da população que depende do SUS, resolveu pular fora.
Eu que sempre financei o meu plano de Saúde, minha moradia, meu carro, meu paletó…. concordo.
Funcionários públicos são fundamentais à sociedade, mas quem sabe podem ser adaptados aos novos tempos?? Eu acho que sim.
(…)”
Comento.
Em princípio, soa impopular, mas é um argumento que será testado junto ao ‘conjunto da população’ conforme avançar a greve.
– Estão faltando pediatras no hospital para atender pelo SUS – alguém vai cobrar gente do governo.
– Sim, sabia que a Prefeitura paga quase metade de um plano de saúde para alguns servidores e seus familiares, e que o rombo no ano passado foi de R$ 7 milhões e assim será assim por diante? – poderá ser a resposta do governista.
Que, se apostar que o interlocutor domina os zeros após a vírgula, poderá acrescentar:
– E a Prefeitura, ou seja, você, também pagou R$ 60 milhões ano passado para garantir a aposentadoria dos funcionários públicos. Mais da metade do orçamento vai para o funcionalismo.
É por isso que, no artigo A greve que pode beneficiar Marco Alba, levantei a possibilidade de, na greve, a medida em que as horas tornarem-se dias, os alunos que terão que recuperar aulas e os pais que reclamam não ter onde deixar os filhos, poderão se interessar mais pelas armas que apresentam SPMG e Prefeitura neste Jogos Vorazes pela morte ou vida do Ipag Saúde.
Mas, sa mesma forma que acho errado o sindicato falar em ‘direito’ que é retirado, acho pesado demais Zaffa usar como analogia ao Ipag Saúde a ‘Lei de Gerson’ – aquela de que ‘é preciso levar vantagem em tudo’.
Talvez se estivéssemos tratando de burocratas concursados que fingem que trabalham no serviço público, e cada um conhece algum, ok. Mas boa parte dos usuários do plano são professores.
Também acho errado comparar com auxílio-moradia, auxílio-paletó, etc. A figura de linguagem é forte como meme na rede social, e o filósofo sabe, mas não há como comparar juízes e políticos que ganham 30 mil com professores que no topo da carreira ganham pouco mais de 3 mil.
Concluo da mesma forma, indicando o argumento que considero mais honesto ao governo no Guia De…: “o Ipag Saúde quebrou, perdeu a sustentabilidade. Não é justo com a maior parte da população, muitos usuários do SUS, botar mais dinheiro dos impostos para manter um plano de saúde para alguns servidores e familiares. Não é só para os professores, cobre também conjugues, pais, mães, filhos, irmãos… Agora, se você quer que a Prefeitura banque, de algum lugar virá esse dinheiro. Pode ser? Mas tem uma alternativa, o governo retirar sua parte da contribuição e os servidores com a outra metade que hoje descontam pagarem um plano de saúde privado, que se feito de forma coletiva, pode ser negociado sem carências e com alguns benefícios por ter a segurança do pagamento por desconto em folha em uma prefeitura que paga em dia”.
Concluo.
A guerra de narrativas que já começou. Onde vai parar, quem vai ganhar? Sei lá, tanto para um lado, quanto para outro, nem sempre um mal necessário se transforma em um bem.
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